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Transtorno de Ansiedade Generalizada - TAG

  • Foto do escritor: Tatiane Farias
    Tatiane Farias
  • 26 de abr. de 2022
  • 10 min de leitura

Atualizado: 15 de mar. de 2023

O QUE É O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA?


O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um transtorno crônico de ansiedade no qual preocupação e ansiedade excessivas estão presentes na maioria dos dias e em diversos eventos ou atividades, considerando-se os últimos seis meses. Estas estão associadas a pelo menos três dos seguintes sintomas: inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele, fadiga ou cansaço excessivo, dificuldade em se concentrar ou sensações de “branco” na mente, irritabilidade, tensão muscular e alterações do sono (APA, 2013). Embora seu conteúdo possa variar, as preocupações associadas ao TAG tendem a ser excessivas, crônicas, amplas e penetrantes, podendo incluir diversos campos, tais como: relações interpessoais, saúde física, escola, trabalho, finanças, questões mundiais e/ou questões menores (p. ex.: compromissos diários com a casa ou com os filhos) e até mesmo a preocupação por estar preocupado. A ansiedade exagerada pode levar a tremores, contrações, dores musculares, nervosismo ou irritabilidade. Muitos indivíduos também experimentam sintomas como: sudorese, náusea, alterações intestinais e uma resposta de sobressalto exagerada. A ansiedade, a preocupação e os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento geral da pessoa. A preocupação excessiva prejudica a capacidade do indivíduo de fazer as coisas de forma eficiente, seja em casa, no trabalho ou em qualquer outra área da vida. Ela toma tempo e energia, e os sintomas associados contribuem para o prejuízo funcional. Dessa maneira, quanto mais a pessoa se preocupa e apresenta perdas pela preocupação em excesso, mais provavelmente os sintomas estão relacionados ao TAG. As pessoas acometidas pelo TAG, por se sentirem ansiosos ou preocupados em excesso, dificilmente procuram ajuda (Coutinho, 2011). Elas tendem a crer que ser ansioso faz parte de sua personalidade e, com isso, buscar auxílio profissional não ajudará a resolver seus problemas. De fato, a ansiedade é intrínseca à condição humana e até certo ponto pode ser considerada saudável, pois, assim como qualquer outro sentimento, faz parte do repertório de reações dos seres humanos por meio de um processo evolutivo, de natureza adaptativa. No caso da ansiedade, o problema não está em se sentir ansioso, como pode parecer à primeira vista. O problema é quando há dificuldade de reconhecer a ansiedade, aceita-la, tirar proveito dela quando possível e, também, continuar a funcionar apesar dela.

Por exemplo, sentir ansiedade quando a data de uma importante prova se aproxima pode ajudar o indivíduo a se organizar e estudar para o exame. Assim como se tornar ansioso por estar sozinho numa rua deserta durante a madrugada pode fazê-lo ficar mais atento e andar mais rápido. A ansiedade começa a se tornar disfuncional quando o indivíduo passa a subestimar a sua capacidade de enfrentamento e segurança, e a supervalorizar a probabilidade e gravidade da possível ameaça ocorrer, levando-o, frequentemente, à evitação de certas situações. Como mencionado anteriormente, ao contrário de como acontece com pessoas que têm outros transtornos, dificilmente quem tem TAG busca ajuda por situações como essa, mesmo que ela ocorra de forma recorrente e traga prejuízos para sua vida acadêmica e social. Os indivíduos portadores do TAG, em geral, só buscam ajuda quando começam a apresentar doenças físicas ou psicológicas, como, por exemplo, transtorno do pânico ou depressão. Por comumente sentirem-se extremamente desanimados com a duração de seus problemas, a evolução do quadro pode levar ao diagnóstico de depressão, sendo este o transtorno com maior índice de ocorrência simultânea com o TAG. É fato que a ansiedade crônica, excessiva e incontrolável é um transtorno psicológico e quanto mais cedo for tratada melhor. Logo, se você tem o diagnóstico de TAG ou se identificou com o que foi descrito anteriormente, o que você precisa saber é que, na maioria das vezes, suas preocupações têm intensidade, duração e frequência desproporcionais à probabilidade real de ocorrer o evento temido. Ou você pode estar tão acostumado a se preocupar que está colocando o foco de sua atenção em situações ou imagens emocionalmente negativas, o que pode deixá-lo aflito mesmo sem que haja um motivo real para tal. Além disso, você também pode estar subestimando a sua capacidade de lidar com situações problemáticas, sem conseguir dormir nem expulsar os pensamentos negativos da sua cabeça. De qualquer forma, todas essas possibilidades geram sofrimento e declínio na qualidade de vida. A boa notícia é que esses problemas têm tratamento e o índice de eficácia terapêutica é promissor.

Como os pensamentos influenciam no Transtorno de Ansiedade Generalizada? A forma de você pensar afeta o modo ou a maneira como você se sente. Muitas vezes a experiência intensa e incontrolável da ansiedade faz com que o indivíduo não seja capaz de reconhecer que os pensamentos ajudam a manter as emoções (Clark & Beck, 2012). Todavia, é importante entendermos que nossos pensamentos têm uma função mediadora entre uma situação e nossos sentimentos. Os indivíduos geralmente supõem que são as situações, e não as suas interpretações, que geram ansiedade. Por exemplo, uma mulher vai ao médico, que lhe solicita um exame de mamografia. Diante disso, ela vai para casa pensando que está passando uma fase muito difícil, o que a faz se sentir ansiosa, e conclui que o médico descobriu alguma alteração grave no seu corpo e não quis comunicar. Ela crê que o exame gera ansiedade. É possível que, quando questionada sobre o que está passando em sua cabeça, afirme que acredita que o exame irá constatar o pior e não há nada que ela possa fazer. O que talvez ela não saiba é que não é o pedido médico, mas sim o que ela pensa sobre a solicitação que causa ansiedade e medo. Na verdade, um pensamento relacionado à ameaça ou algum tipo de dano gera reações emocionais, fisiológicas e comportamentais de ansiedade.

É possível que uma pessoa que se preocupa com um pedido de exame pense: “Estar preocupada me prepara para o pior” ou “a preocupação me motiva a cuidar da minha saúde” ou até mesmo “a preocupação vai me ajudar a encontrar uma solução para o meu problema”. Pensamentos com significados positivos sobre manter-se preocupada ajudam a pessoa a manter um ciclo vicioso de pensamentos negativos e sensações de ansiedade e angústia. Isto é, essas formas de pensar acabam servindo como justificativa para manter-se preocupado, e são comumente vistas em pessoas com TAG. Os indivíduos com TAG também costumam ter dificuldade em tolerar incertezas e, com isso, pensam que devem controlar ao máximo as situações, o que os fazem buscar por segurança grande parte do tempo. Muitas vezes, por não se sentirem totalmente seguros, esses indivíduos deixam de agir em situações importantes da vida. Nós sabemos que não temos como prever ou controlar o que ainda não aconteceu, e a busca incessante e infrutífera por certezas absolutas relacionadas ao futuro acaba por gerar mais angústia e ansiedade, o que leva a comportamentos de evitação em situações nas quais o esperado seria agir, mesmo sem total garantia do resultado. Ainda no exemplo do pedido médico, o resultado incerto do exame, somado ao fato de a pessoa pensar que é importante estar preparada para o pior, faz com que ela comece a sofrer antecipadamente por uma resposta negativa que ela não tem (e pode nunca vir a ter). Essa pessoa perde qualidade de vida e, muitas vezes, torna-se repetitiva com os familiares e amigos por sentir necessidade de falar sobre o assunto de teor negativo frequentemente. Agora que você já entendeu que não são as situações que geram ansiedade, e sim como você interpreta as situações, talvez você possa começar a buscar alternativas mais realistas para encarar as situações da vida diária. Algumas perguntas que o ajudam são: que evidências eu tenho que apoiam o meu pensamento? Quais vão contra? O que eu diria a um amigo que estivesse passando pela mesma situação? O que um amigo sensato me diria? É possível que depois de responder a essas perguntas você reavalie sua forma de pensar e, consequentemente, de sentir e se comportar.

Como o meu problema está sendo mantido? Agora que você já entendeu que seus pensamentos servem de mediadores entre as situações e suas reações e, mais especificamente, que avaliações ansiogênicas provocam reações igualmente ansiosas, vamos falar sobre a manutenção do transtorno, que se dá, na maior parte do tempo, pelos ciclos viciosos que os indivíduos com TAG vivenciam. Na maior parte do tempo, os indivíduos com TAG estão se preocupando com possíveis consequências negativas e formas de evitar o pior. Por acreditarem que se devem prevenir, esses indivíduos têm o foco atencional voltado para a ameaça e são capazes de detectar perigo em situações neutras. Em seguida, começam a pensar nesse perigo de forma catastrófica e tentam, de todas as maneiras, controlar a situação e evitar o pior. Como isso não é possível, optam por evitar ou fugir da situação temida. Contudo, o que eles não entendem é que evitar ou fugir acaba por mantê-los no ciclo vicioso. Voltemos ao exemplo do pedido médico para explicar, em etapas, o ciclo vicioso. A pessoa (i) interpreta o pedido de exame como algo perigoso (potencial ameaça); (ii) começa a imaginar uma série de catástrofes (pensamentos catastróficos são pensamentos com orientação negativa para o futuro), como estar com um nódulo maligno no seio e até mesmo na possibilidade de sofrer metástase; (iii) como forma de controle, ela começa a buscar mais informações sobre as possibilidades da doença (estratégias comportamentais de busca de segurança e controle da situação); (iv) por não conseguir colher todas as informações ou não se sentir segura o suficiente com o que encontrou na sua busca, a mulher opta por adiar o exame e tenta não pensar sobre o assunto (estratégias comportamentais de supressão do pensamento e da emoção), mas todas as vezes em que lembra acaba sofrendo mais por pensar que está só adiando e que isso pode ser ainda pior.

Ou seja, a sua forma de pensar a mantém num ciclo vicioso de preocupação que aumenta com o passar do tempo. Em contrapartida, o fato de o pior não acontecer efetivamente faz a pessoa crer que se manter preocupada está ajudando e que isso é bom, ou que se manter preocupada é sinal de cuidado consigo própria. Então você deve estar se perguntando: “e se o pior realmente acontecer?”, é bem provável que nessa situação a pessoa pense que não se preocupou e não ficou alerta o suficiente, e isso a fará se preocupar e se manter ainda mais hipervigilante do que era anteriormente. Além da vulnerabilidade biológica à ansiedade, um fator psicológico importante na influência da patologia é a forma de interpretar cada experiência da infância. Sabemos que, desde o começo da infância, nossas interpretações podem contribuir com o desenvolvimento de formas de pensar negativas, tais como: 'sou vulnerável e frágil”, “eu preciso me manter sempre no controle” e “o mundo é perigoso”. Acreditar nessas verdades leva o indivíduo a criar regras do tipo “quando eu tenho o total controle da situação, me sinto forte e capaz de lidar com o mundo”, “se eu não tenho o controle, então sou fraco e estou vulnerável”. Ocorre que todas as vezes em que ele não se sente totalmente no controle se sente fraco e reforça a ideia de que é vulnerável, o que acaba por manter a visão negativa sobre si.

Como posso lidar com o Transtorno de Ansiedade Generalizada? O tratamento psicoterápico mais indicado para o TAG é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), com eficácia comprovada em diversos estudos pelo mundo (Coutinho, Pereira, Rangé, & Nardi, 2011). A proposta é que você aprenda sobre a TCC e sobre o transtorno. Além disso, é importante entender, a partir de sua história de vida, como suas ideias negativas foram formadas e quais regras ou pressupostos estão influenciando seus comportamentos e mantendo o TAG para que, em seguida, você possa ser apresentado a uma variedade de possibilidades para lidar com o transtorno de forma adaptativa e com menos sofrimento. No geral, o foco do tratamento é a preocupação (expectativa apreensiva), a ansiedade excessiva, além de questões interpessoais e afetivas relacionadas ao transtorno. Você deve começar a monitorar as suas preocupações e categorizá-las como relacionadas a uma situação real ou hipotética. Como se sabe, os indivíduos com TAG são especialistas em descobrir possíveis problemas, mas possuem dificuldade de gerar soluções eficazes ou respostas de enfrentamento. Para lidar com problemas reais, é importante aprender a técnica de resolução de problemas.

O tratamento também irá encorajá-lo a enfrentar as incertezas, como estratégia mais adequada para ajudá-lo a pensar em outras formas de agir nas situações em que você não tem garantia de como será o resultado final (Dugas & Robichaud, 2009). Ou seja, você aprenderá a lidar com situações nas quais o desfecho final é incerto.

Se você tem como hábito focar a atenção sobre potenciais catástrofes, está sempre pensando no pior e se preocupando com algo, isso prejudica você a manter a atenção de sua consciência no momento presente. Experimentar a prática, mesmo que informalmente, de mindfulness (que significa manter a atenção no momento presente, sem qualquer tipo de julgamento) pode ajudá-lo a aprender a estar totalmente “presente” na atividade em si, ou seja, o foco de sua atenção sendo aquilo que você está fazendo agora, e não a preocupação e a ameaça orientada para o futuro. Mindfulness tem origem em práticas orientais de meditação e é descrita como uma forma de manter a atenção no momento presente, sem qualquer tipo de julgamento, com o intuito de aumentar a consciência nas próprias experiências. Para começar a praticar mindfulness, esteja consciente do que você está fazendo no momento presente e, toda vez que seus pensamentos se desconectarem, retorne ao seu foco sem julgamentos ou críticas. A mulher para a qual o médico pediu a mamografia possivelmente não se engaja totalmente em suas atividades diárias desde que saiu da consulta médica. Assistir à televisão ou jantar em família pode ter se tornado um tormento, por ela passar parte do tempo pensando de forma catastrófica sobre o resultado do exame, sentindo-se triste por acreditar que sua vida poderá mudar para pior em breve. O trabalho com mindfulness a ajudará a focar no momento presente, sem se deixar perder em suas preocupações. É comum pessoas com TAG acreditarem que nunca conseguirão relaxar e ter a mente livre de preocupações, pois desde que conseguem se lembrar estão com pensamentos negativos direcionados à saúde, segurança física e/ou financeira, problemas nos relacionamentos, ou mesmo no fato de não conseguirem parar de pensar em diversos problemas ao mesmo tempo. Porém, sabemos que as pessoas com TAG podem se livrar da ansiedade e preocupação disfuncionais, afinal elas são mantidas pelo hábito, pois sua mente aprendeu a pensar dessa forma, e para superá-lo, você precisa ensinar a sua mente outras maneiras de pensar. O tratamento do TAG ajudará você a relaxar a sua mente, examinando as vantagens e desvantagens de se manter preocupado, e entendendo que pensamentos não são verdades absolutas e questioná-los é fundamental. Talvez você possa escolher um horário para se preocupar todos os dias e, nesse momento, validar suas emoções, aceitar suas limitações e praticar a perda de controle, entregando-se a elas. E possível que você fique entediado e quando esse momento acabar, em seguida, você se permita viver com plenitude o momento presente, sendo mais leve e feliz. Pode parecer difícil no primeiro momento, mas não deixe de buscar ajuda psicológica e médica. Profissionais competentes e experientes podem ajudá-lo na redução dos sintomas relacionados à preocupação excessiva e à ansiedade excessiva, o que contribuirá para uma melhora significativa na sua qualidade de vida. Seguindo estes passos, você pode conseguir!

Referência: Carvalho, M. R.; Malagris, L. E. N.; Rangé, B. P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo- Comportamental. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.


Tatiane C. Farias | CRP: 06/157858

Psicóloga Clínica | Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

E-mail: psicologa.tatianefarias@gmail.com

 
 
 

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