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Transtorno de Ansiedade Social

  • Foto do escritor: Tatiane Farias
    Tatiane Farias
  • 4 de ago. de 2023
  • 7 min de leitura

Uma característica básica da vida humana é a sociabilidade. Por isso, podemos considerar que a dificuldade em interagir socialmente constitui um problema relevante, e quando esta passa a causar prejuízos significativos, caracteriza-se, então, o transtorno. O principal componente do transtorno de ansiedade social (TAS) é o medo de ser avaliado negativamente em situações sociais. A pessoa com TAS tem medo de agir ou mostrar sintomas de ansiedade, de maneira que lhe seja embaraçoso ou humilhante, e procura evitar as situações sociais ou as su­porta com bastante desconforto (APA, 2014).

Se você foi diagnosticado com TAS ou se identifica com a descrição desse transtorno, deve estar suportando as situações sociais com muito desconforto ou evitando a todo custo enfrentá-las, o que pode estar prejudicando sua rotina, mas saiba que você não está sozinho: a ansiedade social é o terceiro transtorno psiquiátrico mais comum, atrás da depressão e alcoolismo, e pode ser tratado com psicoterapia e/ou medicação (Nardi, 2000).

Sentir-se ansioso em situações sociais é uma experiência universal e necessária. Talvez seja mais fácil imaginar isso em outros tempos, quando tínhamos que sair em grupo para caçar e nos proteger. Pertencer ao grupo, ser aceito, significava sobreviver. Por isso, algum grau de ansie­dade em situações sociais é desejável e benéfico. O problema é quando a ansiedade se torna um impedimento para se relacionar, atrapalhando significativamente a vida, trazendo intenso sofrimento.

Muitas pessoas com TAS consideram-se uma farsa e pensam que, ao deixar outras pessoas se aproximarem, estas poderão criticá-las ou rejeitá-las. Isso gera uma preocupação grande em disfarçar os sintomas de ansiedade (Picon & Penido, 2011). No entanto, o objetivo do tratamento é entender, aceitar e manejar o problema. Isso significa não precisar mais se preocupar com o que os outros vão perceber a seu respeito, afinal, ter e demonstrar fragilidades faz parte da vida.


Como os meus pensamentos influenciam o transtorno de ansiedade social?

Sabe-se que a maneira como interpretamos os fatos influencia o que pensamos e sentimos emocional e fisicamente. Quando interpre­tamos e avaliamos as situações, tendemos a encarar nossos pensamentos como verdades absolutas. No entanto, em algumas ocasiões, podemos ter pensamentos equivocados e distorcidos, que vão gerar reações emocionais e físicas condizentes com tal pensamento. Desta maneira, podemos nos sentir mal por interpretações inadequadas, e até mesmo experimentar um maior desconforto ao lidar com sentimentos e reaçõe desagradáveis (Clark & Beck, 2012). Ao estar em uma situação social que causa ansiedade, o fóbico social ativa sintomas cognitivos (pensamentos), sintomas emocionais (sentimentos), sintomas fisiológicos (reações no corpo) e sintomas comportamentais (o que faz na situação). Essas reações aparecem descritas abaixo:


Modelo do TAS

Sintomas Cognitivos: Menor concentração, não saber o que falar, pensamentos negativos Sintomas Emocionais: Medo, pânico, terror, angústia Sintomas Fisiológicos: Tremor, rubor, suor, voz embargada Sintomas Comportamentais: Evitação da situação, evitação sutil: desviar o olhar, falar pouco


No TAS, o modo como a pessoa interpreta as situações é fundamental para entender o mecanismo da ansiedade. A expectativa de uma situação social, ou estar nela de fato, faz com que tenha pensamentos negativos sobre si mesmo e sobre o que as pessoas à sua volta acharão ao seu respeito. Isso tende a aumentar consideravelmente o seu nível de ansiedade. Ao entrar ansioso nessas situações, é provável que a pessoa realmente não consiga causar uma impressa positiva, confirmando seu pensamento de que é inadequado (Ciai & Beck, 2012).

Sabe-se que, por vezes, as pessoas que se encaixam nos critérios de TAS podem se beneficiar de treinamentos em habilidade sociais conseguindo promover mudanças e ter um desempenho satisfatório nos eventos sociais. Mas também é possível que a pessoa não consiga perceber as habilidades que já possui, e esteja tão preocupado com a situação que não consiga notar quando tem um desempenho positivo (Picon & Penido, 2011).


Como o meu problema pode estar sendo mantido?

Como você já sabe, a sua interpretação sobre as situações pode, por vezes, estar distorcida em relação aos dados de realidade. Os pensamen­tos negativistas e catastróficos podem provocar as reações de ansiedade, fazendo com que você passe a evitar ou enfrente com grande incômodo as situações sociais. Além disso, tais distorções podem se autoperpetuar, direcionando as avaliações, o que dificulta a percepção de eventos posi­tivos nos quais se teve um desempenho satisfatório.

A evitação dos eventos sociais tem grande contribuição na manu­tenção do TAS. Você se sentirá aliviado ao não se colocar nas situações, o que, em curto prazo, é uma estratégia eficaz para diminuir a ansie­dade. Porém, em longo prazo, tende a manter a necessidade de evitar ou fugir, impedindo a criação de novas experiências que gerem novas interpretações, o que mantém a ideia de que os eventos sociais oferecem algum risco. Além disso, a evitação contribui para o isolamento, causan­do grande sofrimento e fortalecendo crenças relacionadas a se perce­ber como inadequado e desinteressante (Heimberg, Liebowitz, Hope, & Schneier, 1995).

Outro aspecto importante é o que chamamos de processamento pré-evento. É caracterizado pela expectativa frente a algum evento social, sobre o que vai ou pode acontecer. E durante o pré-evento que podem surgir lembranças de situações anteriores entendidas como falhas, pensamentos sobre incapacidade de lidar com a situação e de que poderá ser rejeitado ou passar vergonha. Provavelmente, diante dessa expectativa, você fará um rastreamento de todas as possibilidades que esse evento tem de ser uma experiência desagradável, enquanto terá dificuldade de pensar em possibilidades e aspectos positivos. Neste contexto, é possível que você já tenha um nível de ansiedade impor­tante, chamado de ansiedade antecipatória, podendo apresentar as mesmas reações emocionais e fisiológicas que teria se o que pensou de fato ocorresse (Clark & Wells,1995).

A tendência de manter a atenção autofocada também é um aspecto importante do TAS. Nas interações, os indivíduos tendem a dirigir a atenção para si, sobre o que estão pensando, sobre suas reações emocio­nais e físicas, e como será a percepção e avaliação das pessoas a sua volta. Ao perceber reações de taquicardia, tremor e sudorese, por exemplo, você pode ter pensamentos de autoavaliação negativa. Além disso, focando em si, você deixa de prestar atenção no ambiente, isso preju­dica o desenvolvimento de habilidades sociais, e pode ser interpretado como desinteresse, o que, por sua vez, acaba por tornar real justamente os temores que provocaram a ansiedade.

Quando você está com a atenção autofocada, é provável que tam­bém perceba o aumento da intensidade de suas reações. Ficar muito atento a uma reação faz com que ela aumente, e a isso damos o nome de autoprocessamento. É como se você enviasse uma mensagem para seu cérebro confirmando que se trata de uma situação de risco. Dessa forma, seu organismo age sob influência do falso perigo e trabalha para aumentar as suas chances de sobrevivência, tornando os sintomas da ansiedade mais intensos (Clark & Wells, 1995).

O processamento pós-evento também é um componente impor­tante na manutenção do transtorno. Após o fim do evento, as pessoas com TAS podem fazer uma retrospectiva, revendo mentalmente cada cena da situação em busca de falhas. Isso tende a fortalecer a autopercepção negativa, a percepção do evento como aversivo e a necessidade de evitar futuros eventos. Esse processo é facilitado pelas interpretações equivocadas do pré-evento e pela distorção que a atenção autofocada causa, dificultando a apreciação de aspectos positivos.

Como posso lidar com o transtorno de ansiedade social?

Durante o tratamento cognitivo-comportamental você irá apren­der diversas estratégias que ajudarão a lidar com o TAS, tais como:


Questionar pensamentos: Durante a psicoterapia, você vai aprender a relativizar a maneira como pensa sobre si e sobre o que as pessoas podem achar a seu respeito. Para isso, será exercitado o questionamento dos pensamentos que mantêm sua ansiedade através da busca de evidências que comprovem ou invalidem a realidade das suas avaliações.


Manejo dos sintomas: Você aprenderá estratégias para lidar com os seus sintomas, ou seja, irá treinar seu organismo a diminuir a ativa­ção gerada pela ansiedade, reduzindo a intensidade das sensações corpo­rais e, em consequência, as interpretações sobre seu desempenho e sobre a avaliação de outras pessoas.


Treinamento de habilidades sociais (THS): Você terá a opor­tunidade de desenvolver e fortalecer um repertório de habilidades que favoreça a construção de um bom desempenho social. Através desse trei­namento, poderá exercitar a expressão de sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos de acordo com o contexto em que está inserido. Além de entender e lidar melhor com a expressão de tais habilidades em outras pessoas (Caballo, 2003).


Enfrentamento: Você vai descobrir que o enfrentamento é o que realmente diminui o medo e a ansiedade, e não a evitação. Irá apren­der estratégias que o ajudarão a enfrentar as situações sociais de forma gradual, no seu tempo. Aos poucos, as situações que são muito desa­gradáveis, deixarão de causar o mesmo incômodo e sofrimento que você sente hoje. Enfrentar também é uma forma de testar e levantar mais dados de realidade que lhe ajudem a criar interpretações mais condizentes com a realidade.


Será que eu posso conseguir?

Muitas pessoas acreditam que as características do TAS são aspectos da personalidade ou até mesmo aspectos do caráter que acompanharão a pessoa por toda a sua vida, impossíveis de serem mudados. Além disso, o incômodo e sofrimento causados pelo transtorno por si só já tornam a busca por ajuda um passo extremamente desafiador. No entanto, a Terapia Cognitico-Comportamental oferece técnicas e ferramentas que tornam a mudança possível, respeitando seus limites e fazendo com que se sinta cada vez mais confiante e capaz de lidar com os eventos sociais. É natural se sentir sem saída dentro dessa situação, mas através do tratamento você perceberá que pode se sentir esperançoso para alcançar seus objetivos e investir em aspectos da sua vida que estavam ficando de lado.


Referência: Carvalho, M. R.; Malagris, L. E. N.; Rangé, B. P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo- Comportamental. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.


Busque ajuda de um profissional qualificado, Transtorno de Ansiedade Social tem tratamento.

Tatiane C. Farias | CRP: 06/157858

Psicóloga Clínica | Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

E-mail: psicologa.tatianefarias@gmail.com

 
 
 

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